sexta-feira, 24 de julho de 2009

Homofobia na escola


Pesquisa revela que 87% da comunidade escolar têm preconceito contra homossexuais

Brasília - Nas escolas públicas brasileiras, 87% da comunidade – sejam alunos, pais, professores ou servidores – têm algum grau de preconceito contra homossexuais. O dado faz parte de pesquisa divulgada recentemente pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP) e revela um problema que estudantes e educadores homossexuais, bissexuais e travestis enfrentam diariamente nas escolas: a homofobia.
O levantamento foi realizado com base em entrevistas feitas com 18,5 mil alunos, pais, professores, diretores e funcionários, de 501 unidades de ensino de todo o país.
“A violência dura, relacionada a armas, gangues e brigas, é visível. Já o preconceito a escola tem muita dificuldade de perceber porque não existe diálogo. Isso é empurrado para debaixo do tapete, o que impera é a lei é a do silêncio”, destaca a socióloga e especialista em educação e violência, Miriam Abromovay.
Um estudo coordenado por ela e divulgado este ano indica que nas escolas públicas do Distrito Federal 44% dos estudantes do sexo masculino afirmaram que não gostariam de estudar com homossexuais. Entre as meninas, o índice é de 14%. A socióloga acredita que o problema não ocorre apenas no DF, mas se repete em todo o país.
“Isso significa que existe uma forma única de se enxergar a sexualidade e ela é heterossexual. Um outro tipo de comportamento não é admitido na sociedade e consequentemente não é aceito no ambiente escolar. Mas a escola deveria ser um lugar de diversidade, ela teria que combater em vez de aceitar e reproduzir”, defende.
A coordenadora-geral de Direitos Humanos do Ministério da Educação (MEC), Rosiléa Wille, também avalia que a escola não sabe lidar com as diferenças. “Você tem que estar dentro de um padrão de normalidade e, quando o aluno foge disso, não é bem-compreendido naquele espaço.”
Desde 2005 o MEC vem implementando várias ações contra esse tipo de preconceito, dentro do programa Brasil sem Homofobia. As principais estratégias são produzir material didático específico e formar professores para trabalhar com a temática.
“Muitos profissionais de educação ainda acham que a homossexualidade é uma doença que precisa ser tratada e encaminham o aluno para um psicólogo. Por isso nós temos pressionado os governos nas esferas federal, estadual e municipal para que criem ações de combate ao preconceito”, explica o presidente da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), Toni Reis.
As piadas preconceituosas, os cochichos nos corredores, as exclusões em atividades escolares e até mesmo as agressões físicas contra alunos homossexuais têm impacto direto na autoestima e no rendimento escolar desses jovens. Em casos extremos, os estudantes preferem interromper os estudos.
“Esse aluno desenvolve um ódio pela escola. Para quem sofre violência, independentemente do tipo, aquele espaço vira um inferno. Imagina ir todo dia a um lugar onde você vai ser violentado, xingado. Quem é violentado não aprende”, alerta o educador Beto de Jesus, representante na América Latina da Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans e Intersexo (ILGA).
Especialistas ouvidos pela Agência Brasil acreditam que, para combater a homofobia, a escola precisa encarar o desafio em parceria com o Poder Público. “A escola precisa sair da lei do silêncio. Todos os municípios e estados precisam destampar a panela de pressão, fazer um diagnóstico para poder elaborar suas políticas públicas”, recomenda Miriam Abromovay.
Para Rosiléa Wille, o enfrentamento do preconceito não depende apenas da escola, mas deve ser um esforço de toda a sociedade. “A gente está tendo a coragem de se olhar e ver onde estão as nossas fragilidades, perceber que a forma como se tem agido na escola reforça a rejeição ao outro. Temos uma responsabilidade e um compromisso porque estamos formando nossas crianças e adolescentes. Mas o Legislativo, o Judiciário, a mídia, todas as instâncias da sociedade deveriam se olhar também.”


Travestis e transexuais são os mais afetados pelo preconceito na escola

Brasília - Em uma sala de aula da 1ª série do ensino fundamental, uma professora pergunta a seus alunos o que eles vão ser quando crescer. Um diz que será médico, outra conta que pretende ser professora. Mas um dos estudantes de 7 anos responde sem titubear: “Quero ser mulher”. A declaração chocou a escola, por isso, o menino e seus irmãos tiveram que procurar outro lugar para estudar. Foi assim que a transexual Beth Fernandes, 40 anos, hoje “mulher de fato e de direito”, como ela mesmo define, foi vítima da homofobia pela primeira vez.
Travestis e transexuais são as maiores vítimas da homofobia dentro da escola. Educadores, psicólogos e entidades consultados pela Agência Brasil são unânimes ao afirmar que esse público é o mais afetado. Para fugir da discriminação, muitas vezes a saída é abandonar os estudos. “É raríssimo encontrar um travesti no ensino médio”, afirma o educador Beto de Jesus, representante na América Latina da Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans e Intersexo (ILGA).Beth Fernandes hoje é psicóloga e mora em Goiânia. Há dois anos ela fez cirurgia de mudança de sexo e conseguiu trocar seu nome na carteira de identidade. Diferentemente do que ocorre na maioria dos casos, com muito esforço, Beth fugiu das ruas e da prostituição. “Elas abandonam a escola, depois a família as expulsa de casa e elas vão para rua. Lá são vítimas da exploração sexual, da cafetinagem e depois dificilmente conseguem se inserir no mercado de trabalho. Cerca de 17% das travestis de Goiânia são analfabetas”, ressalta.
De acordo com a coordenadora de Direitos Humanos do Ministério da Educação (MEC), a pasta tem uma demanda muito grande por parte de travestis porque “elas não ficam na escola”. “Aos 9 anos começa a aflorar a questão da sexualidade, elas começam a ser maltratadas e a exploração sexual é quase uma trajetória”, acrescenta.
Beth conta que foi difícil superar o preconceito e muitas vezes pensou em desistir de estudar. “Várias amigas abandonaram a faculdade porque a professora insistia em chamá-las pelo nome masculino, mesmo que pedissem o contrário. É uma barbaridade cruel, um erro de percepção eu olhar para uma pessoa que se configura como mulher e chamá-la de João o tempo todo”, diz. Em Goiás, uma lei do Conselho Estadual de Educação obriga a inclusão do nome social de travestis e transexuais nos registros escolares.
Mas, com informação e orientação, a vida dessas pessoas dentro da escola pode ser diferente. Marina Reidel, de 38 anos, é travesti e dá aulas na rede pública estadual em Porto Alegre (RS). Ela leciona para estudantes de 5ª a 8ª séries do ensino fundamental e nunca teve problema com alunos ou pais. “Nossa escola tem um perfil diferente porque nós já trabalhamos em parceria com uma ONG em cursos de capacitação de professores para a diversidade sexual”, explica.Em 2006, Marina decidiu fazer a cirurgia para colocar prótese de silicone nos seios. A direção ficou receosa com a possível repercussão da mudança. Mas, no período do afastamento, o professor substituto trabalhou em sala com os alunos a questão da diversidade sexual e explicou o motivo da cirurgia de Marina. Ao retomar as atividades, Marina respondeu a perguntas dos alunos curiosos, mas não enfrentou nenhum tipo discriminação.
“Dentro da disciplina chamada de ética e cidadania, que substitui o ensino religioso, os alunos são incentivados a desenvolver projetos e pensar a questão do preconceito. Tenho certeza de que esses jovens vão sair da escola com uma cabeça diferente, não vão espancar travesti na rua como acontece por aí”, diz.
Para Beth Fernandes, a inserção de travestis e transexuais dentro do ambiente escolar pode transformar a visão que a sociedade tem dessa população marginalizada. “É o cotidiano que vai fazer a escola mudar e inserir essas pessoas. A partir do momento em que travestis são tratados como sujeitos de direitos, eles vão continuar em sala de aula. Há um progresso importante nesse processo porque as pessoas podem parar de enxergar aquela pessoa como o sujeito marginalizado, que vive na rua.”



quinta-feira, 23 de julho de 2009

Religião é uma invenção humana.

Atualmente não estou com muita paciência para escrever, mas isso não permite que eu deixe de atualizar meu blog.
Hoje estou postando aqui dois textos da coluna do Filósofo e Jornalista da Folha, Hélio Schwartsman.


O primeiro texto foi escrito em sua coluna semanal na Folha no dia 16/07/2009:


Deus e o Jardim das Delícias

Já que a comparação que fiz entre missas e comportamentos histéricos em minha coluna da semana passada irritou bastante gente, proponho hoje desenvolver um pouco mais o tema.
Convenhamos que religião e nosso conhecimento do mundo não andam exatamente de braços dados. De um modo geral, virgens não costumam dar à luz (especialmente não antes do desenvolvimento de técnicas como a fertilização "in vitro") e pessoas não saem por aí ressuscitando. Em contextos normais, um homem que veste saias e proclama transformar pão em bife sempre que dá uma espécie de passe seria prudentemente internado numa instituição psiquiátrica. E não me venham dizer que a transubstanciação é apenas um simbolismo. Por afirmar algo parecido --a "impanatio"--, o teólogo cristão Berengar de Tours (c. 999-1088) foi preso a mando da Igreja e provavelmente torturado até abjurar sua teoria. Ele ainda teve mais sorte que o clérigo John Frith, que foi queimado vivo em 1533 por recusar-se a acatar a literalidade da transformação.
Quando se trata de religião, aceitamos como normais essas e muitas outras violações à ordem natural do planeta e à lógica. A pergunta que não quer calar é: por quê?
Ou bem Deus existe e espera de nós atitudes exóticas como comer o corpo de seu filho unigênito ou o problema está em nós, mais especificamente em nossos cérebros, que fazem coisas estranhas quando operam no modo religioso. Fico com a segunda hipótese. Antes de desenvolvê-la, porém, acho oportuno lembrar que a própria pluralidade de tabus ritualísticos depõe contra a noção de Verdade religiosa.
Se existe mesmo um Deus monoteísta, o que ele quer de nós? Que guardemos o sábado, como asseguram judeus e adventistas; que amemos ao próximo, como asseveram alguns cristãos; que nos abstenhamos da carne de porco, como garantem os muçulmanos e de novo os judeus; ou que não façamos nada de especial e apenas aguardemos o Juízo Final para saber quem são os predestinados, como propõe outra porção dos cristãos?
Talvez devamos eliminar os intermediários e extrair a Verdade diretamente nos livros sagrados. Bem, o Deuteronômio 13:7-11 nos manda assassinar qualquer parente que adore outro deus que não Iahweh; já 2 Reis 2:23-24 ensina que a punição justa a quem zomba de carecas é a morte. Mesmo o doce Jesus, fundador de uma religião supostamente amorosa, em João 15:6, promete o fogo para quem não "permanecer em mim".
E tudo isso em troca do quê? A Bíblia é relativamente econômica na descrição do Paraíso, mas o nobre Corão traz os detalhes. Lá já não precisamos perder tempo com orações e preces, poderemos beber o vinho que era proibido na terra (Suras 83:25 e 47:15), fartar-nos com a carne de porco (52:22) e deliciar-nos com virgens (44:54 e 55:70) e "mancebos eternamente jovens" (56:17). O Jardim das Delícias parece oferecer distrações para todos os gostos, mas, se banquetes, prostíbulos e saunas gays já existem na terra, por que esperar tanto... --poderia perguntar-se um hedonista empedernido.
Volumes e mais volumes podem ser escritos para apontar as incoerências e desatinos dos chamados textos sagrados. Se acreditamos que um Deus pessoal chancelou ou ditou cada uma dessas obras, temos, na melhor das hipóteses, um Ser Supremo com transtorno dissociativo de identidade, também conhecido como personalidade múltipla. Espero que, no fim dos tempos Ele esteja judeu de novo. Tenho um primo que faria bom uso do Paraíso...
Voltando às coisas sérias, uma possibilidade mais plausível é que o chamado cérebro espiritual, os módulos neuronais que criam e processam ideias religiosas, seja menos permeável aos circuitos lógicos. Quem faz uma interessante análise do problema é o médico e geneticista americano David Comings em seu monumental "Did man create God?", uma ampla revisão de quase 700 páginas em que o autor esmiúça o caso de Deus sob todas as vertentes da ciência, em especial a neurologia.
Para ele, ao contrário do mais provocativo Richard Dawkins, a religião dá prazer, foi fundamental na evolução de nossa espécie e só será extinta quando o último homem morrer. Mais importante, Comings acredita que os cérebros racional e espiritual, embora funcionem de modo independente um do outro, podem de algum modo ser conciliados no que o autor chama de "espiritualidade racional". Cuidado aqui, o espiritual é uma esfera que abarca a religião, mas é mais ampla do que ela. Inclui outras tentativas de tocar a transcendência.
Num resumo algo grosseiro da mensagem central de Comings, só o que precisaríamos fazer é admitir que foi o homem que criou a ideia de Deus e escreveu os livros supostamente sagrados. Assim, nenhuma religião é verdadeiramente "a Verdadeira" ou intrinsecamente superior às concorrentes. Já não é necessário que guerreemos para descobrir se é o Deus cristão ou muçulmano que está certo. No limite, entregamos Deus para conservar uma espiritualidade menos belicosa, que nos permita a experimentar a transcendência a baixo custo.
É uma proposta engenhosa, mas, receio, muito difícil, quase impraticável. O monoteísmo já traz em germe a ideia de que existe um único caminho para a salvação e todo os que não o seguem estão condenados. Embora a maioria das pessoas consiga enxergar e valorizar as semelhanças entre os Deuses das várias religiões, sempre emergirão grupos mais intolerantes que exigirão o exclusivismo. Por paradoxal que pareça, não se os pode acusar de irracionais. Eles apenas levam realmente a sério o que está escrito. Numa abordagem puramente lógica, o Deus dos católicos e o de Calvino, por exemplo, não podem estar certos ao mesmo tempo. O conflito é uma decorrência do cérebro racional processando uma ideia espiritual.
É claro que podemos e devemos incentivar posições pró-tolerância como a de Comings. Os níveis de guerras religiosas variaram ao longo das épocas, num processo que certamente tem algo a ver com o modo mais ou menos pluralista utilizado pelos clérigos em suas prédicas. Não devemos, contudo, ser ingênuos a ponto de imaginar que o conflito possa ser extinto. O mundo é um lugar cheio de problemas.
De minha parte, embora ímpio contumaz, também acredito em transcendência. Para mim, ela está em atividades biologicamente inúteis às quais nos dedicamos e atribuímos valor, como literatura, música, pintura, filosofia e, por que não?, teologia. Elas podem ser extremamente prazerosas e, no limite, preencher nossas vidas com um significado que a natureza apenas não lhes dá. Mas não é porque a literatura nos leva à transcendência que devemos achar que Aquiles ou Brás Cubas existem.




Segundo texto, escrito no dia 23/07/2009.


Enquadrando Deus

Não, nunca fui submetido a abusos por parte de padres nem tive namorada que me trocou pelos Hare Krishna. Nasci e fui criado sem nenhuma religião --a qual nunca me fez falta. Embora eu tenha ascendência judaica --o que me torna um quase paradoxal caso de judeu ateu--, jamais ter frequentado a sinagoga não fez de mim um assassino ou estuprador.
As relações que travei com gente religiosa no curso da vida foram no geral muito boas. Tenho grande estima por muitas dessas pessoas.
Espero, com essas declarações, descartar as elucubrações daqueles leitores que atribuíram o caráter levemente ateu de minha coluna da semana passada a um trauma religioso ou algo parecido. Aproveito o ensejo para desculpar-me por não ter respondido a todos os e-mails que recebi, como exigiria a boa educação. O volume de mensagens gerado, entretanto, tornava a tarefa quase impossível. Pretendo hoje, no atacado, fazer o que não consegui no varejo.
Antes, porém, mais uma preliminar: não pretendi ofender ninguém com as passagens mais jocosas do texto anterior. Pessoas, de todos os credos e cores, têm o meu respeito, mas só as pessoas, não seus pensamentos. Uma ideia tola é tola não importa quem a tenha proferido. Num passado não tão longínquo, a noção de que pecadores deveriam ser queimados vivos para "salvar" suas "almas imortais" pareceu respeitável a boa parte da humanidade. Felizmente, a tese foi contestada e as ações que provocou são hoje contadas como mais um crime das religiões. Temos, portanto, excelentes motivos para questionar todas as teorias, doutrinas e sistemas que se nos apresentam. Nenhum ideia é sagrada demais para ficar ao abrigo do escrutínio da razão.
E isso nos leva a uma das questões levantadas pelo leitorado: é impossível provar que Deus não existe, de modo que o ateísmo não passa, como as religiões, de uma crença. Reconheço que não conseguimos demonstrar para além de qualquer dúvida seja a existência ou a inexistência de um ente supremo. Mas podemos levar a sérios as teses dos teólogos e, tomando-as como hipóteses científicas, estimar sua probabilidade ou pelo menos verossimilhança.
Bem, quais são as chances de uma pessoa nascer sem que sua mãe tenha mantido relações sexuais? Não são zero, mas são relativamente baixas. Ressurreição? Ainda menores. E quanto à união hipostática, isto é, um indivíduo ter ao mesmo tempo natureza humana e divina, ou, colocando em outros termos, ser simultaneamente ele mesmo e também seu pai? Supondo que isso faça algum sentido, acho que é melhor nem tentar calcular.
Passemos à escatologia. O catecismo 1.052 da Igreja Católica ensina que no dia da ressurreição as almas das pessoas mortas "na Graça de Cristo" serão novamente unidas a seus corpos. Não sou um patologista, mas parecem-me remotas as chances de reutilizar corpos mortos às vezes milhares de anos atrás. Pelo que sabemos, os átomos que compunham essas carcaças já terão se espalhado pela Terra e talvez até escapado de nossa atmosfera e viajado por onde nenhum homem jamais esteve. E o que pensar da reencarnação defendida por espíritas, hinduístas e budistas? Uma parte de nós (alma) que nem sequer é parte, porque não tem matéria, voa por aí penetrando corpos e definindo a essência de seres humanos e às vezes também de outros animais e vegetais antes mesmo de eles nascerem? Que tipo de informação pode o imaterial carregar?
Receio que nenhuma dessas ideias pare em pé senão como manifestações do tal cérebro espiritual ao qual aludi na semana passada.
Alguns leitores me perguntaram porque sempre falo de religião. Já que não creio em Deus, dizem, eu deveria calar sobre o assunto. Minhas reiteradas recaídas no tema indicariam uma vontade secreta de converter-me. "Non sequitur". Meu interesse pela matéria tem caráter sobretudo científico-antropológico. A religião é um fenômeno interessantíssimo. É a única matriz de pensamentos que leva pessoas inteligentes e normalmente racionais a agir como crianças à espera de Papai Noel na noite de 24 de dezembro. E acrescento que as chances de haver um velhote que se veste de vermelho e distribui presentes a bordo de um trenó puxado por renas voadoras parecem significativamente maiores do que as de existir uma inteligência infinita que criou o Universo e se interessa pelo destino individual de cada um dos 7 bilhões de terrestres, aos quais conhece desde criancinhas e de quem exige que não trabalhem aos sábados.
De minha parte, não tenho a pretensão nem o desejo de convencer ninguém a abandonar o seio de sua religião. Imagino que muitos estejam perfeitamente felizes onde estão. Tampouco considero todos os fiéis imbecis apenas por acreditarem. Podem até sê-lo, mas por outras razões. Ao que tudo indica, a fé religiosa tem base neurológica. Ela faria parte de uma rede de ativações neuronais que é independente das conexões do cérebro racional. Pedir para a alguém que abandone suas convicções religiosas ou espirituais não faria muito sentido. "Mutatis mutandis", seria como cobrar de uma pessoa que não sinta emoções como raiva, nojo etc. É algo que não está em seu poder fazer.
Poder-se-ia ver aí mais um argumento para eu desistir de vez de falar de religião. Ocorre que os cérebros racional e espiritual, embora independentes, podem relacionar-se. Eles, afinal, fazem parte da mesma massa encefálica. A razão por si só não vai me fazer parar de sentir medo, mas pode perfeitamente contribuir para modular esse tipo de sensação. Não vamos deixar de temer tudo, mas, com o recurso a terapias de extinção de fobia ou mesmo a drogas, podemos nos livrar de certos medos irracionais.
De modo análogo, o exame crítico das religiões pode servir para que as pessoas percebam que sua espiritualidade é algo mais genérico do que os rituais e condicionamentos de uma determinada igreja. Embora a busca pela transcendência esteja se expressando numa religião em particular, as especificidades deste ou daquele credo não são tão importantes. Pode parecer meio bobo até, mas é um ponto fundamental para que se construa uma religiosidade mais tolerante.
Não devemos, é claro, nutrir ilusões. Homens sempre se mataram e provavelmente sempre se matarão. Se não for pelo Deus para o qual se reza, será pela cor da pele, pelas ideias políticas ou sabe-se lá o quê. Mas mesmo essa tendência irrefreável à barbárie pode ser modulada pela razão. A humanidade é hoje menos violenta do que foi no passado. Quanto menos pretextos tivermos para assassinar o próximo, melhor.

terça-feira, 21 de julho de 2009


Ontem não foi um dia tão bom para mim, em especial no cair da tarde.
Meu amigo telefonou para mim e avisou que as notas haviam acabado de sair, então corri para a frente do computador, entrei no site da universidade, acessei a minha página, por fim, estava em histórico, onde vi as minhas notas de Estágio de 8,5, Geografia do Brasil 8,4, Psicologia da Aprendizagem 7,0 e Bioclimatologia 8,4.
Fiquei muito contente com as minhas notas, entretanto, (sempre há um porém), eu fui reprovado em Bioclimatologia porque eu tinha 46,66% de presença. putaqueopariu!
Liguei na seção de graduação e o cara informou-me que eu estava reprovado por falta. Porém, caso a professora ver que foi um equívoco, eles podem estar consertando.
Mandei um e-mail para a professora, e aguardo a resposta. Meu coração quer saltar para fora do peito. Como assim, tiro 8,4 de nota e sou reprovado? Caralho! O que eu li de texto, o que eu li para montar um seminário sobre "A influência da temperatura do ar e do solo no crescimento e desenvolvimento dos seres da Biosfera". Ela adorou o seminário. Tive que ler mais textos para escrever o trabalho de 20 páginas.....e sou reprovado por faltas?!
Então, eu faltei alguns dias da aula dela, pois fui ao Encontro de Geógrafos da América Latina e numa sexta-feira tive que acompanhar 45 alunos até uma excursão para Santos-SP.
Bem.....não sei o que irá acontecer, estou esperando a professora responder. Caso não aparecer nenhuma resposta, estarei rumando até Rio Claro para conversar com ela.

Bem é isso!
Abraçosss

Abaixo um festival de "ih fudeu!" Algumas são montagens e outras reais


segunda-feira, 20 de julho de 2009

Lula tem retórica.

Uma das melhores entrevistas que eu assisti do Lula.
Essa entrenvista foi realizada em Londres por um programa de entrevista da BBC, a ideia do programa é fazer perguntas provocativas, por isso o seu nome "Hard Talk" (Conversa Pesada).

Lula simplesmente dá uns "foras" no repórter, como no assunto se o Brasil realmente tem tido uma séria responsabilidade sobre a Amazônia, fazendo com que o nosso presidente respondesse a pergunta provocativa do entrevistador de uma maneira bem objetiva: "Se você pegar o que existia de floresta no mundo a 8.000 anos atrás, a 2.000 anos atrás [você verá que] O Brasil ainda tem 68% das suas florestas, e a Europa só tem 0,3%. Segundo, não tentem jogar a culpa em cima dos países pobres e em desenvolvimento pela responsabilidade da poluição do planeta. A poluição do planeta, tem 65% de responsabilidades dos países desenvolvidos, que são os maios emissores da poluição no planeta"


Se você estiver disposto, recomendo que assista a esta entrevista, e veja que o nosso presidente é um ótimo orador e comunicador, o que desmistifica o fato de acharem ele menos instruído por não ter um diploma ou de não saber falar outro idioma.


É só clicar no link abaixo




Abraços

Deni

sexta-feira, 17 de julho de 2009

O quinto dos infernos

Vale a pena relembrar a minissérie "O quinto dos infernos" que contava a história da vinda da família real portuguesa ao Brasil.
Eu chorava de tanto rir com os "ai jesus" do ator André Matos que interpretava o Dom João VI, vale a pena ver de novo.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Eu esperei ansiosamente por esta postagem, acredito ser o momento correto para falar sobre o assunto: deus.Eu nasci em família protestante e desde criança fui instruído em algumas lições cristãs. Lembro-me que na minha fase de criança, sempre me falavam assim "A Bíblia é sagrada e tudo o que está escrito nela é verdade". Acontece que eu recebia essa frase como uma verdade e não podia questioná-la jamais. Uma imposição.
Durante os meus 18 meses de vida, sofri um acidente de carro, que até hoje deixa uma cicatriz bem vísivel em minha testa. Eu não lembro nadica do acidente, entretanto, as pessoas ao meu redor que viram tudo o que ocorreu disseram que fui salvo por deus. Então, logo eu tinha que aceitar o poder divino sobre minha vida, pois deus me salvou da morte. Mas eu fico perguntando-me, por quê deus não salva também as pessoas que estão morando em países com guerras cívis? Por quê deus não salva as pessoas que passam fome? Por quê deus me salvou e não salvou outras pessoas que sofreram acidentes e que vieram a falecer? Por quê deus não salva a todos?
Se deus (o deus que me ensinaram, portanto, o cristão) ama a sua criação, por quê ele permite que ela sofra?
É aquela velha história, se você tem um filho, você o deixaria morrer de fome? Evidente, que você faria de tudo para dar o que de comer ao seu filho.
Você deixaria seu filho sofrer de dores terríveis? Logicamente não, você correria ao hospital para levá-lo aos médicos.
Aquilo que concebemos e criamos passa a ser uma parte de nós, e logo quando nossa criação sofre, fazemos de tudo para que ela não sofra, se fosse possível até prefiriamos sofrer no lugar da nossa criação, para que esta pudesse crescer com saúde, em paz e feliz.
Agora, por quê em certas regiões do nosso Brasil, vemos pessoas abandonas, passando fome, necessidade, sofrendo de dores? Até mesmo nas grandes cidades como São Paulo, você encontra pessoas nas periferias passando fome, não tendo dinheiro para comprar o remédio que ameniza a sua dor física.
Se deus nos criou, por quê ele permite que soframos? Por quê ele permite que existam diferenças sociais entre as pessoas, ou seja, pessoas que nascem ricas e com toda estrutura adequada ao seu desenvolvimento e outras pessoas que nascem pobres e nada possuem?
Por quê as pessoas brigam, se matam? Se deus existe e ama a sua criação, por quê ele permite que pessoas inocentes morram e pessoas corruptas e assassinas sobrevivam?

Por quê nos ensinam que ele, deus, nos ama de maneira igual e justa?
Se deus nos amasse de fato, não nos permitiria sofrer.
Não nos permitiria ficarmos enfermos.
Não permitira que a injustiça ocorrece conosco.

"Ah, mas isso é uma prova de deus que você tem que passar."

PORRA! SERÁ QUE NÃO EXISTE UMA JUSTIFICATIVA MAIS INTELIGENTE DO QUE ESSA BESTEIRA DE PROVA?

Não cola, isso em mim não cola!

O mais interessante é que cada religião tem seu próprio deus e suas próprias doutrinas.
Segundo o Cristianismo, aqueles que não conhecem a Cristo, ou não creem nele, são infiéis, são pessoas que serão lançados no lago de fogo, como está escrito em apocalipse.
Entretanto, do outro lado do mundo, muitas pessoas nunca ouviram falar de Cristo, e são pessoas de bem, pessoas honestas e bondosas. Você acha que elas mereciam ir ao inferno por quê não conhecem a Cristo?
O engraçado é que se você pegar todas as religiões, todas irão afirmar que o deus dela é o deus verdadeiro e salvador, e que o deus das outras é o falso. Portanto, uma religião anula a outra.
As pessoas acreditam naquilo que as convém. Portanto, sentem-se confortadas em acreditar que existe um deus que as receberá quando elas morrerem, pois ninguém sabe o que vai acontecer depois da morte, apesar de que eu desconfio de que nada vai acontecer mesmo.
A religião é uma droga, uma droga que aquieta as pessoas sobre perguntas doloras que ninguém até hoje conseguiu responder, até mesmo as próprias religiões.

"A religião é o ópio do povo"

Napoleão dizia que "a religião é aquilo que impede os pobres de matarem os ricos". Isso me faz lembrar os programas sensacionalistas do final da tarde, como o "Brasil Urgente" do Datena e o Programa do Ratinho, que adoram mostrar assassinatos, crimes que chocam, e outras coisas, e depois dizem aos telespectadores : "Pessoal, falta deus no coração dos homens, pois o homem crente em deus nunca comete um crime".....BINGO! A religião é uma invenção do homem dominante para intimidar a maioria a não se revoltar contra um sistema imposto, que lhe causa uma condição social precária.
Para mim se existisse um deus que amasse a toda sua criação, sempre iria fazer de tudo para que todos pudessem ter condições boas de vida, e não este mundo desigual, onde somos explorados, sofremos injustiças e enfermidades.
Portanto, quero afirmar que me tornei ateu por causa de deus. Sim, sou ateu graças a deus- este que nos ensinam e não existe, pois se existisse mesmo, o mundo seria bem diferente.
Existem muitas coisas a se discutir, eu só queria colocar isso. Em novas postagens prometo discutir mais este assunto.


"Se deus fez o homem a sua semelhança, logo sou deus?!"

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Alice no País das Maravilhas.

Amigos, Tim Burton está dirigindo o filmes de Alice no país das Maravilhas.

"A trama será uma espécie de sequência do clássico original: Alice (Mia Wasikowska), aos 17 anos, vai a uma festa vitoriana e descobre que está prestes a ser pedida em casamento perante centenas de socialites. Ela então foge, seguindo um coelho branco, e vai parar no País das Maravilhas, um local que ela visitou há dez anos, mas não se lembrava.

Alice no País das Maravilhas é, ao lado de Frankenweenie, um dos dois projetos do diretor com o Walt Disney Studios que serão exibidos em 3D. Johnny Depp, Alan Rickman, Matt Lucas, Michael Sheen, Helena Bonham Carter, Crispin Glover, Christopher Lee e Eleanor Tomlinson também estão no elenco.

O filme estreia em 5 de março de 2010."



Dá um close no Johnny Depp como o Chapeleiro Louco










quinta-feira, 9 de julho de 2009

Stonewall: para além da "visibilidade"

Eu recebi esse texto por e-mail do meu amigo Guaru, acredito ser uma reportagem de algum site, não tive tempo de constatar, mas faço questão de publicá-lo aqui no meu blog. Leiam, é importante para toda a sociedade saber de alguns fatos como este.
Abraços, Deni.


Por Marina Fuser e Bia Michel, estudantes da PUC-SP e integrantes do Pão e Rosas

Em 28 de julho de 1969 nos Estados Unidos, a polícia nova-iorquina invadiu um bar homossexual chamado Stonewall Inn, quebrando garrafas, espelhos, o balcão e o banheiro, provocando o maior estardalhaço sem nenhum motivo aparente. Isso era considerado procedimento de rotina, o que se traduz em atos de violência gratuita, fechamento de estabelecimentos sem justificação legal, prisões arbitrárias de travestis e transexuais. A violência policial contra homossexuais assume proporções escandalosas; é quando os abusos e excessos alcançam seus expoentes máximos. Jeremiah Newton, professor da Universidade de Nova Iorque e testemunho dos acontecimentos no Stonewall, atesta:

“Eram os 60, havia muita violência, muitos podiam te bater ali mesmo na calçada e sair impunemente, porque a polícia era contra gays. Eu ia com os amigos ao Stonewall e a outros lugares, raramente saía sozinho. Um protegia o outro. Com muita freqüência havia batidas policiais.”



No episódio, 3 travestis foram empurradas pra dentro de um camburão. Pela primeira vez na história dos Estados Unidos, após anos de tratamento à base de cassetetes, houve resistência por parte dos freqüentadores do bar, que ameaçaram derrubar o camburão caso não as soltassem, e em seguida, latas e garrafas foram lançadas na direção dos policiais. Antes que chegassem novas viaturas, os policiais correram pra dentro do bar, mas a fúria dos manifestantes era tamanha que as portas foram trancadas e o local incendiado. A noite terminou com o saldo de 13 presos. No dia seguinte, a polícia retornou ao local e foi recepcionada por uma multidão de gays, lésbicas, travestis, transexuais, dentre os quais pacifistas e militantes comprometidos com a defesa dos direitos humanos. Fechou-se a 7ª Avenida. O episódio havia repercutido e atraído a atenção de freqüentadores do Greenwich Village que se impactaram com a arbitrariedade dos tiras: todos gritavam em uníssono: “basta de repressão policial!” As palavras de ordem diziam um absoluto NÃO à homofobia e clamavam em defesa do direito mais elementar: o de não ser espancado pelos agentes do Estado.

Marcado com violência expressiva, o conflito entre homossexuais e a polícia nova-iorquina durou 4 noites, com barricadas e enfretamento direto entre as reacionárias forças coercitivas do Estado e aqueles que se mostravam dispostos a lutar pelo fim da opressão que lhes era inferida. O conflito elucidou a falsa promessa de liberdade que subjaz em uma democracia excludente, onde cidadãos são espancados por aqueles que se dizem justiceiros do Estado democrático de direito. As máscaras caem e colocam a desnudo a impunidade e violência que dão o tom do tratamento dedicado aos estratos que se situam a margem da sociedade, aqueles que são alvo de preconceito e exclusão, por sua cor de pele, sexualidade ou classe social.

O relato do professor Newton coloca em relevo a importância do Stonewall no intuito de manter viva a memória e a tradição de luta da população LGBT:

“Há outras histórias de gays que reagiram a autoridades, mas o Stonewall foi um divisor de águas. Quando se é jovem, deve-se curtir a vida, mas também estar ciente do que a sociedade heterossexual pode fazer para machucá-lo. Eles têm as leis e o governo a favor. (...) Stonewall é uma metáfora. Todo gay e lésbica tem um Stonewall em sua vida para superar (...) Foi o nascimento do movimento gay moderno.”[1]

O aniversário do conflito de Stonewall tornou-se uma data comemorativa, que presta homenagens à resistência homossexual. Seu 10º aniversário foi celebrado em uma manifestação com cerca de dez mil homossexuais pelas ruas de Nova Iorque em protesto contra a opressão e a homofobia. Este marco histórico dá origem ao movimento LGBT considerado o mais expressivo do mundo.

Os episódios de Stonewall ocorreram no calor da enxurrada de movimentos sociais a partir do fim dos 1960, como os Black Power, os Black Panthers, as feministas e os ecologistas, o movimento LGBT articula-se e ganha proporções sem precedentes na história. A pesar de sua heterogeneidade ideológica e policlassismo, os movimentos sociais dos anos 1960 lançaram luz sobre o problema da opressão, que não só é orquestrada pelo sistema, mas é funcional a este. Instrumentalizada, a opressão divide a sociedade, desarticula, humilha. Seus estratos mais pobres são dizimados, perdem de vista o horizonte político. O problema da opressão não pode ser solucionado deixando de pé os alicerces sobre os quais repousa a atual sociedade. O Estado burguês não faz valer a igualdade de direitos. Nos bastidores da Parada Gay de São Paulo deste ano, quando o episódio de Stonewall completa 40 anos, o assassinato atroz de Marcelo Campos pouco reverbera nos principais meios de comunicação. A mídia trata assassinatos de homossexuais como corriqueiros, a polícia continua a dedicar-lhes o mesmo tratamento que décadas atrás. Está na hora de dar um basta ao conformismo e retomar as bandeiras de Stonewall. Assumir-se como sujeito significa ir além da bandeira da “visibilidade” hasteada pelos partidos burgueses, pelas ONG’s e pela sociedade de consumo que absorve essa bandeira como um nicho de mercado. Não é a visibilidade o que nós aspiramos, mas a combatividade necessária para se fazer valer os nossos direitos. Não basta sermos vistos, é preciso que nossa voz seja sentida. Viva os 40 anos do Stonewall! Punição aos assassinos de Marcelo Campos! Abaixo a homofobia e abaixo a violência policial!

domingo, 5 de julho de 2009

Fuck you para os Homofóbicos

Sim, este vídeo foi feito por alguns integrantes da comunidade GLS do Brasil, depois de ter virado sucesso no mundo inteiro onde em muitos países foram produzidos esses vídeos para dizer um "Foda-se homofóbicos".
Vi no blog do Yag-nacontramao, e resolvi postar aqui tb.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

As duas vacas em outros regimes políticos



Comunismo (idealizado): você tem duas vacas. Os seus vizinhos o ajudam a cuidar das vacas e todos compartilham o leite.

Comunismo: você tem duas vacas. Você cuida das vacas, mas todo o leite fica com o governo.

Socialismo: Você tem duas vacas. O governo as tira de você e as coloca num curral, juntamente com as vacas de todo mundo. Você tem que cuidar de todas as vacas. O governo lhe dá um copo de leite.

Socialismo utópico: Você tem duas vacas. Espontaneamente você cede uma delas ao seu vizinho que não tem nenhuma e todos são felizes.

Marxismo: Você tem duas vacas. Porém, para reduzir a exploração do proletariado, é necessário que o povo conspire uma revolução para convencê-lo que você não precisa de duas vacas.

Comunismo Russo: Você tem duas vacas. Você tem que cuidar delas, mas o governo fica com o leite todo. Você rouba o máximo possível do leite e o vende no mercado negro.

Comunismo Cambojano: Você tem duas vacas. O governo pega as duas e fuzila você, acusando-o de ser um capitalista criminoso centralizador dos recursos de produção da Nação e fomentando a fome de seu Povo.

Comunismo Rosa (desbotado): Você tem duas vacas. Você é um capitalista.

New Deal: Você tem duas vacas. O governo mata uma delas, você ordenha a outra e então joga fora um pouco de leite.

Ditadura Iraquiana: Você tem duas vacas e é fuzilado por suspeita de ser instrumento do imperialismo americano com o objetivo único de contaminar todos os rebanhos do pais.

Ditadura militar: você tem duas vacas. O governo fica com as duas vacas para alimentar os corruptos que o apoiam. Tortura e depois lhe mata porque você é um subversivo perigoso.

Ditadura militar (v. 2.0): você tem duas vacas. O governo fica com as duas e prende você para averiguações.

Fascismo: você tem duas vacas. O governo toma as duas vacas, contrata você para cuidar das vacas e vende o leite a você.

Nazismo: você tem duas vacas, o governo mata você e toma as vacas.

Anarquismo: você tem duas vacas, seu vizinho mata uma e carrega a outra.

Totalitarismo: Você tem duas vacas. O governo mata você para ficar com as duas vacas, já que o preço da vaca no mercado internacional está bom.

Imperialismo: você tem duas vacas e rouba um touro.

Democracia: você tem duas vacas. Os vizinhos decidem como repartir o leite.

Democracia representativa: você tem duas vacas. Você e os seus vizinhos marcam uma eleição para escolher quem irá dizer como o leite será repartido.

Ditadura militar latino-americana: você tem duas vacas. O governo mata você, vende as vacas e manda o dinheiro para um banco suíço.

Democracia surrealista: você tem duas vacas. O governo lhe aplica uma pesada multa porque um quitinete não é lugar de criar duas vacas.

Democracia britânica: você tem duas vacas. Você aporrinha tanto as vacas que elas ficam loucas. O governo não está nem aí… A família real mantém as aparências perante a imprensa.

Democracia americana: o governo promete lhe dar duas vacas se você votar nele. Após a eleição, o presidente é acusado de especular no mercado futuro de vacas. Importante jornal descobre o que existe por trás das vacas (!) e cria um escândalo chamado Cowgate (não confundir com o dentifrício). O presidente é forçado a renunciar e as vacas contratam advogado para acionar o governo por quebra de contrato.

Democracia francesa: você tem duas vacas. O governo baixa regras sobre a forma de as alimentar e ordenhá-las. Paga um gordo subsídio para você reduzir a produção para continuar faturando e não ter de ir procurar emprego na cidade. Depois, manda você desfilar com as vacas em frente a lanchonete de gringo.

Democracia verde (politicamente correta): você tem duas vacas. O governo manda você soltá-las no pasto.

Democracia surrealista (v. 2.0): você tem duas vacas cor de rosa. Elas flutuam placidamente sobre uma relva de cores fortes. O governo? No governo só há políticos honestos e eles não estão nem aí para suas vaquinhas amarelas.

Feudalismo: Você tem duas vacas. O senhor, le Baron de La Merde-Rouge, fica com a maior parte do leite para alimentar a família dele.

Sindicalismo: Você tem duas vacas, você paga uma ao vaqueiro pelo salário combinado e a outra para o mesmo na ação que ele move contra você na justiça do trabalho.

Burocracia: Você tem duas vacas. Primeiro, o governo traça normas para determinar como você vai poder alimentá-las e quando vai poder tirar leite delas. Depois, ele lhe paga para não tirar leite delas. A seguir, ele pega as duas vacas, mata uma a tiros, tira o leite da outra e joga o leite fora. Depois, manda você preencher um formulário em cinco vias para explicar o que foi.

República de bananas: Você tem duas vacas. O governo retira-lhe as vacas e mata-o por ser contra a revolução.

Democracia na UE: Você tem duas vacas. Ao fim de algum tempo candidata-se a um fundo comunitário para comprar uma ordenha mecanizada. Gasta-o no novo modelo da BMW (também é mecanizado!!!, qual é o problema?). Se as vacas dão muito leite você pede um subsídio porque não tem onde o armazenar. Se dão pouco leite pede um subsídio porque não tem outro meio de subsistência. Além disso você pede sempre combustível agrícola para o seu BMW.

Democracia kosher israelense: Você tem duas vacas. O rabino pede para elas tirarem a língua de fora e dizerem shloshim ve shalosh. Olha para você, diz que elas não são kosher e manda queimar as duas. Você paga uma graninha, consegue salvar uma e fica rico abastecendo o Beit Chabad de Jerusalém.

Doutrina Social da Igreja: Você tem duas vacas e dá uma para a paróquia, para fornecer leite ao vigário.

Perestroika: Você tem duas vacas. Você deve tomar conta delas, mas a Máfia Russa fica com todo o leite. Você consegue desviar, ilegalmente, parte do leite para vendê-lo no mercado “livre”.

Feminismo: Você tem duas vacas. Elas se casam e adotam uma novilha.

Dadaísmo: Você tem duas girafas. O governo manda você tomar aulas de sanfona.